segunda-feira, 25 de abril de 2011

Virgindade Perpétua de Maria

Introdução


Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor. (Gálatas I, 19)

Outro tema muito debatido no meio cristão é a virgindade pérpetua de Maria, que, diga-se de passagem, não foi questionada na antiguidade cristã, nem pelos primeiros reformadores protestantes.
Este estudo vai tentar mostrar que as Sagradas Escrituras não provam que Nosso Senhor Jesus Cristo teve irmãos de sangue.  Portanto, devemos clarear os fatos para sabermos a Verdade sobre este tema que está na Palavra de Deus e que foi transmitida pela Sagrada Tradição Apostólica.
Visando este objetivo, em vez de comentar especificamente sobre a virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto, vou falar sobre os argumentos daqueles que pensam refutar as explicações católicas.
Para uma primeira reflexão, convidamos o leitor a pensar: na epístola aos Gálatas, capítulo I, versículo 19, São Paulo diz:
Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor.
Ora, qual dos apóstolos chamado Tiago é filho de Maria?

Virgindade na Literatura Patrística

No ano de 553, Concílio Constantinopolitano II introduz formalmente referência à virgindade perpétua de Maria:
Encarnou-se da gloriosa Theotókos e sempre virgem Maria. (Rodrigo de Assis Rosa, O Dogma da Virgindade de Maria.  Disponível em http://www.lanteri.org.br/htm/odovima.htm)

Com maior clareza ainda formula depois um dos cânones do Sínodo de Latrão (649):
Quem não confessa, de acordo com os santos padres, no sentido genuíno e verdadeiro, a santa, permanentemente virgem e imaculada Maria como progenitora de Deus, visto que concebeu e deu à luz, de modo incólume, nos últimos tempos, sem sêmen, do Espírito Santo, no sentido genuíno e verdadeiro, ao próprio Deus, a Palavra nascida antes de todos os tempos, de Deus, o Pai, sendo que sua virgindade também permaneceu incólume depois de seu nascimento, seja anátema. (Rodrigo de Assis Rosa, O Dogma da Virgindade de Maria.  Disponível em http://www.lanteri.org.br/htm/odovima.htm)

Contudo, todo o Dogma somente é proclamado quando algo ameaça a fé dos fies, mas toda formulação é precedida na Sagrada Tradição, assim abaixo seguem alguns extratos que demonstram que bem antes de 553, a Igreja Católica já proclamava com todas as letras, através de seus doutores, a virgindade perpétua de Maria.

Efrém da Síria (303 – 373):
Virgem, ela O deu à luz e fica incólume em sua virgindade.  Inclinou-se e partiu-O e, assim virgem, ela O levantou e O alimentou com seu leite.  Ela é virgem e assim morre, sem que sejam violados os selos da sua virgindade.

Dídimo, o Cego (313 – 398).

Nos ajuda a compreender os termos "primogênito" e "unigênito" quando o Evangelista diz que Maria permaneceu Virgem "até que deu à luz ao seu filho primogênito" [Mateus I,25]. Nada fez Maria, que é honrada e louvada acima de todas as outras: não se relacionou com ninguém, nem jamais foi Mãe de qualquer outro filho; mas, mesmo após o nascimento do seu filho [único], ela permaneceu sempre e para sempre uma virgem imaculada. (A Trindade III,4, 386 dC).


Santo Ambrósio de Milão (340 - 390):
Que porta é esta senão Maria, que permanece fechada por ser virgem?  Portanto, esta porta foi Maria, através da qual Cristo veio a este mundo graças a um parto virginal, sem romper os claustros fecundos da pureza.  Permaneceu íntegro em seu pudor e se conservaram intactos os selos da virgindade, enquanto nascia Cristo de uma virgem cuja grandeza não podia sustentar o mundo inteiro.  Esta porta, disse o Senhor, há de permanecer fechada e não se abrirá.  Bela porta: Maria, que sempre se manteve fechada e não se abriu!  Passou Cristo através dela, mas não abriu. (Da formação da Virgem LII, 33)

Santo Agostinho (354 – 430)

Quanto ao que cremos a respeito de sua sepultura, essa fé evoca a recordação daquele sepulcro novo que viria testemunhar a ressurreição de Cristo para uma vida nova, tal como aconteceu com o seio virginal em relação ao seu nascimento.  Com efeito, assim como nesse sepulcro nenhum morto foi sepultado (João XIX, 41), nem antes, nem depois, também no seio virginal de Maria, nem antes, nem depois, ser mortal algum foi concebido. (Da fé e do Símbolo V, 11)

Virgem concebeu, virgem deu à luz, virgem viveu até a morte, ainda que estivesse desposada com um operário. (Da Instrução dos Catecúmenos XXII, 40)

Maria permaneceu virgem, concebendo o seu Filho.  Virgem ao dá-lo à luz, virgem ao carregá-lo, virgem ao alimentá-lo do seu seio, Virgem sempre. (Sermão CLXXXVI, 1)



João Cassiano (370 – 425)

Agora, herético, você dirá (qualquer um de vocês que negar que Deus nasceu da Virgem) que Maria, a Mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, não pode ser chamada de Mãe de Deus, mas somente de Mãe de Cristo e não de Deus, porque nenhuma mulher - afirmará você - pode dar à luz a alguém mais velho do que ela própria. A respeito deste estúpido argumento [...] deixe-nos provar por testemunhos divinos de que tanto Cristo é Deus como Maria é a Mãe de Deus. (Sobre a Encarnação de Cristo contra Nestório II,2, 429).

São Cirilo de Alexandria (375 - 444)

O próprio Verbo, vindo por sua vontade à Bem-Aventurada Virgem, assumiu para si o seu próprio templo da substância da Virgem e saindo dela, fez-se completamente homem de modo que todos pudessem vê-lo externamente, mas sendo verdadeiramente Deus internamente. Portanto, Ele preservou sua Mãe virgem mesmo depois dela ter dado à luz. (Contra aqueles que não desejam professar que a Santa Virgem é a Mãe de Deus IV, 430).

Ela é mãe e virgem! Que coisa admirável! Esse milagre me deixa extasiado.  Quem jamais ouviu dizer que um construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu?  Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser a sua própria mãe? Eis que tudo exulta de alegria!  Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade ao celebrar com louvores a sempre virgem Maria!  Ela é o Templo santo de Deus, que é seu filho e esposo imaculado.  A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém. (Homília no Concílio de Éfeso, 431)



Virgindade de Maria nos Primeiros Reformadores Protestantes


A virgindade de Maria não foi questionada pelos primeiros e mais famosos reformadores, vejamos:


O Filho de Deus fez-se homem, de modo a ser concebido do Espírito Santo sem o auxílio de varão e a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem.  (Martinho Lutero, Artigos da Doutrina Cristã)

No Livro Martinho Lutero: Obras Selecionadas encontram-se as seguintes citações do monge agostiniano:

[...] Sou obrigado a chamar de insanas as pessoas que têm tal opinião, e devemos pedir perdão à divina Virgem por sermos obrigados a dizer e pensar tais coisas. (página 181)

A Beata Virgem jamais teria concebido o Filho de Deus, não tivesse ela dado crédito ao anjo. (página 212)

Ora se Lutero não acreditasse que Maria tivesse continuado virgem por toda a sua vida, ele não a chamaria de “divina Virgem”, nem de “beata Virgem”.
Na confissão de Augsburgo, parágrafo 3, tem-se:

Ensina-se, além disso, que Deus Filho se fez homem, nascido da pura Virgem Maria. (Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_augsburgo.htm)

Também no livro Corpus Reformatorum, Zwinglio declara:
Firmemente creio, segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e que, tanto no parto quanto após o parto, permaneceu virgem pura e íntegra.

John Wesley, fundador da Igreja Metodista, em uma carta dirigida a um católico, escreve com todas as letras:

Creio que [Jesus] foi feito homem, unindo a natureza humana à divina em uma só pessoa; sendo concebido pela obra singular do Espírito Santo, nascido da abençoada Virgem Maria que, tanto antes como depois de dá-lo à luz, continuou virgem pura e imaculada. (Disponível em http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/Carta_de_Joao_Wesley_a_um_catolico_romano.pdf)



Até aqui, meus irmãos, esforcei-me para provar que a virgindade perpétua de Maria não é nenhuma invenção recente, mas que é sentida e proclama desde o início do Cristianismo. 

Nos próximos itens tentarei refutar os argumentos daqueles que acreditam que mesmo tendo tido o maior prazer que uma mulher poderia ter, gerar o Filho do Deus Vivo, Maria quis ter outros filhos infinitamente inferiores ao seu Primogênito.


Jesus, o primogênito


No Evangelho de Lucas lemos:

Maria deu à Luz o seu filho primogênito. (Lucas II,7).

Em termos etimológicos ser primeiro não exclui a unicidade, pois o filho único não deixa de ser o primeiro.  Assim, está escrito:

O Senhor disse a Moisés: "Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima, e faze o levantamento dos seus nomes." (Números III,40) (grifos meus).

Se para que seja primogênito é preciso que haja outros irmãos, como pode haver primogênitos "da idade de um mês para cima"?
Desta forma, a palavra "primogênito" não prova que o Senhor teve outros irmãos.

José "conheceu" Maria?

No Evangelho de São Mateus lemos:
José não conheceu Maria até que ela desse à luz um filho. (Mateus I,25, grifos meus).

A grande maioria dos estudiosos bíblicos aceita que Jesus falava aramaico, uma língua muito parecida com o hebreu, na qual o Evangelho segundo Mateus foi escrito, por isto este evangelho, que serviu de base para os demais, é repleto de "aramaísmos", isto é, expressões idiomáticas.
A expressão "até que", "até" ou "enquanto" na linguagem bíblica, diz respeito somente ao passado:
Lemos em Mateus a promessa do Senhor à Igreja:
Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. (Mateus XXVIII,20, grifos meus).

Será que o versículo quer dizer que após a consumação dos séculos, Jesus não estará mais com a Sua Igreja?

Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte (2 Samuel VI,23) (grifo meu).

O escritor sagrado quer dizer que depois de morrer, Micol teve filhos?

Desta forma, a expressão “até que” não garante que depois do parto José deveria "conhecer" Maria.  Além disso, em uma cultura como a judaica, público-alvo do evangelista, daquele tempo seria desrespeitoso entrar em detalhes da vida conjugal de José e de Maria, seria uma invasão da vida privada dos dois.

A palavra "irmãos" na Escritura Sagrada


Talvez o leitor esteja pensando, estes argumentos são válidos, contudo na Bíblia está relacionado claramente o termo irmãos de Jesus, logo Maria não pode ser virgem.  Peço que acompanhe este estudo até o fim...

Está escrito na Palavra de Deus:

Estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos querem ver-te (Mateus XII, 46-47; Marcos III,31-32; Lucas VIII,19-20).


Primeiramente, as palavras "irmão", "irmã", "irmãos" e "irmãs", na Bíblia, podem denotar qualquer grau de parentesco, isto porque, as línguas hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzem o nosso "primo" ou "prima", e se servem da palavra "irmão" ou "irmã".

A palavra hebraica "ha", e a aramaica "aha", são empregadas para designar irmãos e irmãs do mesmo pai, e não da mesma mãe (Genêsis XXXVII, 16; XLII,15; XLIII,5; XII,8-14; 39-15), sobrinhos, primos segundos (Levítico X,4) e até parentes em geral (Jó XIX,13-14; XLII,11).

Deixemos que Santo Agostinho, o Doutor da Graça, esclareça este assunto:

O hábito de nossa Escritura Santa, com efeito, é de não restringir esse nome irmãos unicamente aos filhos nascidos do mesmo homem e da mesma mulher [...] É preciso penetrar o sentido das expressões empregadas pela Sagrada Escritura.  Ela tem sua maneira de dizer.  Possui linguagem própria.  Quem ignora esta linguagem pode ficar perturbado e perguntar-se: “Então o Senhor tem irmãos? Maria teve ainda outros filhos?” Não de modo algum! [...] Qual é, pois, a razão de ser da expressão “irmãos do Senhor”? Irmãos do Senhor eram os parentes de Maria [...] Como se demonstra isso? Pela própria Escritura, que chama, por exemplo, Lot de irmão de Abraão (Gênesis XIII, 8; XIV, 14) e ele era tio de Lot (Gênesis XI, 27); e, todavia, chamam-se ambos de irmãos, unicamente por serem parentes.  Também Labão era tio de Jacó, por ser irmão de Rebeca, esposa de Isaac.  Lede a Escritura e vereis que tio e sobrinho tratavam-se de irmãos. (Comentário sobre o Evangelho de João)


Os evangelistas utilizaram a versão grega Septuaginta, e apesar do idioma grego haver palavras para outros graus de parentesco, os tradutores utilizaram a palavra irmão nas passagens acima, isto porque apesar de os tradutores da Septuaginta escreverem em grego, pensavam em aramaico e não podiam evitar estes termos.

Pedimos ao leitor que quiser ler as passagens acima, para comprovar o que o Santo Doutor escreveu, não tente encontrar nas versões publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil, pois a Palavra de Deus está aí corrigida. 

Assim, a qualificação de alguém pela palavra "irmão" ou "irmã", em relação ao Senhor, não significa que fossem irmãos de fato, contudo podemos afirmar que eram parentes de Jesus.

Ainda, sobre este tema, vamos recorrer ao Novo Testamento.  Com efeito, São Paulo, na epístola aos Gálatas relata o encontro com o Apóstolo Tiago, em Jerusalém, e o chama de irmão do Senhor.

Decorridos três anos, então, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e permaneci com ele quinze dias e não vi outro dos apóstolos, senão Tiago, o irmão do Senhor. (Galátas I,18-19, Almeida Revista e Atualizada).


Da leitura atenta da citação acima, podemos concluir que Tiago era um dos 12 apóstolos originais, pois São Paulo o coloca ao lado de São Pedro (Cefas) e; que o apóstolo Tiago é irmão do Senhor.

A lista dos apóstolos registrada pelos evangelistas é:

Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor (Mateus X, 2-4) (grifos meus).

Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador;  e Judas Iscariotes, que o entregou (Marcos III,16-19) (grifos meus).

Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor (Lucas VI,13-16) (grifos meus).

Deste modo, o Tiago, mencionado por São Paulo, ou era filho de Zebedeu ou filho de Alfeu. Pergunta-se aos leitores deste estudo: qual a relação entre Zebedeu e Alfeu com Santa Maria, Mãe de Jesus? 


Aqueles que acreditam na Sola Scriptura, princípio inventado por Martinho Lutero, terão que responder nada, pois nas Sagradas Escrituras não se menciona uma palavra acerca de um segundo casamento de Maria.

Por outro lado, aqueles que, como os apóstolos, acreditam tanto nas Sagradas Escrituras, quanto na Sagrada Tradição, dirão também: nada.  Pois, também na Tradição Apostólica nunca se menciona este segundo casamento.

Portanto, este Tiago não era irmão consanguíneo de Jesus e assim a palavra irmão, mesmo nos escritos em grego nem sempre se referiam a filhos de mesmo pai e mesma mãe.

Como curiosidade, Rufino ("Comentário ao Credo dos Apóstolos", 37) e Eusébio de Cesaréia ("História Eclesiástica", II,23), ambos historiadores da Igreja Antiga, registraram a Tradição Apostólica que identifica Tiago, autor da Epístola de Tiago, como irmão do Senhor.


A quem os Evangelhos chamam de "irmãos" do Senhor?

Os supostos irmãos de sangue de Jesus seriam: Tiago, José, Simão e Judas, conforme as passagens abaixo:

Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? (Mateus XIII,55).

Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito. (Marcos VI,3)


Propomos que Tiago, chamado menor, era um dos doze apóstolos originais. Esta suposição é razoável, pois pela descrição da cena do calvário este Tiago é mencionado.  Partindo desta premissa, podemos entender quem eram os irmãos de Jesus.

Este Tiago que era irmão de José, não é filho de Zebedeu conforme vemos em São Mateus:
Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu (Mateus XXVII,55-56) (grifos meus).


Como vemos acima, a Mãe de Tiago e José não é a mãe dos filhos de Zebedeu. Desta forma, o Tiago, chamado "o menor" em Marcos XV,40, era o filho de Alfeu. Com efeito, tanto São Marcos quanto São Lucas identificam este Tiago como irmão de José.

Podemos então distinguir os dois "Tiagos" assim: Tiago, o Maior, é filho de Zebedeu e Tiago, o Menor, é filho de Alfeu.

Na lista dos apóstolos de São Lucas, Judas era irmão do Tiago filho de Alfeu (cf. Lucas VI,16), o que corrobora com o livro dos Atos dos Apóstolos, também escrito por São Lucas, onde encontramos:

Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago (Atos dos Apóstolos I,13, grifos meus).


Segundo São Mateus e São Marcos este Judas era também chamado Tadeu (cf. Mateus X,3; Marcos III,18).

Até aqui os filhos de Zebedeu são Tiago (o Maior) e João (cf. Marcos III,16; Mateus X,2). Os filhos de Alfeu são Tiago (o Menor), Judas Tadeu e José (cf. Mateus X,3; Marcos III,18; Lucas VI,15; Atos dos Apóstolos I,13).  Ora, exatamente os nomes Tiago, Judas e José que encabeçam a lista dos "irmãos" de Jesus na lista dos Evangelistas (Mateus XIII,55, Marcos VI,3).  Será que esta constatação é mera coincidência?

Falta ainda Simão. 

Em Mateus XIII,55 e Marcos VI,3 encontramos o nome de Simão junto com os de Tiago, José e Judas.

Quando São Mateus e São Marcos elencam os apóstolos, sempre colocam o nome dos irmãos em sequência. Ex: Pedro e André, Tiago Maior e João, etc.

Nestas mesmas listas, próximo aos nomes dos irmãos Tiago Menor e Judas Tadeu, os evangelistas citam um Simão: "Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu [...]" (Mateus X,3-4) e "[...] Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador" (Marcos III,18).

Com efeito, Eusébio de Cesaréia em sua "História Eclesiástica" registra que este Simão era primo do Senhor e filho de Cleofas:

Após o martírio de Tiago [menor] e a destruição de Jerusalém, ocorrida logo depois, conta-se que os sobreviventes dos Apóstolos e discípulos do Senhor vindos de todas as partes se congregaram e com os consangüíneos do Senhor 'havia um grande número deles ainda vivos' reuniram-se em conselho para verificar quem julgariam digno de suceder a Tiago. Todos unanimemente consideraram idôneo para ocupar a sede desta Igreja Simeão, filho de Cléofas, de quem se faz memória no livro do Evangelho (Lucas XXIV,18; João XIX,25). Diz-se que era primo do Salvador. Efetivamente, Hegesipo [historiador antigo] declara que Cléofas era irmão de José (HE III,11).

Indo um pouco mais fundo em nossa investigação, podemos verificar o grau de parentesco de Jesus com Tiago, José e Judas, para isso vamos identificar a mãe deles.

Os evangelistas relataram que além da Mãe de Jesus, outras mulheres estavam próximas ao calvário. Vejamos:

Havia ali [no Calvário] também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu (Mateus XXVII,55-56, grifos meus).


Segundo São Mateus eram elas: Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José e a mãe dos filhos de Zebedeu. Com efeito, Tiago e José que também são irmãos de Judas Tadeu têm por mãe uma Maria que não é a mãe do Senhor. Os filhos de Zebedeu são Tiago Maior e São João, cuja mãe também estava na cena da crucificação.

E também estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé (Marcos XV,40, grifos meus).


São Marcos eram elas: Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José, irmãos de Judas, e Salomé. Em concordância com São Mateus, Salomé só pode ser a mãe dos filhos de Zebedeu, isto é, a mãe de Tiago Maior e São João. Novamente a Maria mãe de Tiago, Judas e José não é a Maria mãe de Jesus. Esta Maria tinha por marido Alfeu.

Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria [esposa] de Cleofas, e Maria de Mágdala (João XIX,25).


São João identifica Maria esposa de Cleofas como tia de Jesus, isto é, irmã de Santa Maria. Ora, sabemos que Tiago Maior e São João não são primos de Jesus, caso contrário seriam chamados "irmãos do Senhor", assim, Salomé não é a Maria esposa de Cleofas.

Esta Maria, esposa de Cleofas, é a mãe de Tiago, José e Judas. Portanto, estes "irmãos" de Jesus, são na verdade seus primos, filhos de Maria, tia de Jesus.

Como na antiguidade os homens normalmente eram conhecidos por dois nomes, alguns acreditam que Cleofas é o outro nome de Alfeu. Outros sustentam a tese de que Cleofas é o marido de um segundo casamento de Maria, tia de Jesus. Com efeito, somente Tiago é referido como filho de Alfeu, enquanto se diz apenas que Judas e José são seus irmãos.

Sendo Alfeu e Cleofas, a mesma pessoa ou não, isso não oferece qualquer problema, pois de fato Tiago, Judas e José, são filhos de Maria, tia de Jesus, não importando se Tiago Menor é filho de Alfeu e Judas e José filhos de Cleofas.

Para resumir os "irmãos" de Jesus são seus primos, filhos da irmã da Mãe do Senhor, cujo nome é também Maria; são eles Tiago, José, Judas Tadeu e Simão. Este é o testemunho da Sagrada Escritura e da Memória dos primeiros cristãos.


Conclusão

Por este estudo verificamos que os argumentos bíblicos em nenhum momento provam que Maria depois do parto de Jesus deixou de ser virgem e precisamos dizer que não provam o contrário.  Contudo, a Tradição Apostólica vem ao nosso auxílio, e nela sempre encontramos referência à virgindade perpétua de Maria.
Assim, os pais apostólicos falaram da virgindade de Maria, de como a mesma se consagrou a Deus e por isso se fez “eunuca”, por assim dizer.
Provamos que desde pelo menos o século IV, a Igreja Católica proclama que Maria permaneceu sempre virgem, ou seja, não há mudança há pelo menos 1700 anos; vimos também que os primeiros reformadores (século XVI) criam na virgindade perpétua de Maria; hoje, os filhos da reforma não mais creem nesta linda doutrina bíblica; ou seja, em 500 anos houve uma mudança bem radical.
 
Jesus, que é Deus, poderia ter nascido de qualquer modo, todavia escolheu nascer de uma pobre escrava, a Virgem Maria.  Uma das provas deste miraculoso nascimento é o fato de Maria ter permanecido virgem por toda a sua vida, pois caso contrário poderia haver discussões sobre o caráter sobrenatural do nascimento de Jesus.

Além disso, temos que pensar na suficiência.  Deus instituiu o matrimônio como a forma de perpetuarmos nossa espécie e fez o sexo como forma de procriação.  Somente temos o direito e o dever de praticar o ato sexual quando casados, ora como o nascimento de Jesus foi obra do Espírito Santo, podemos dizer que Ele é o marido de Maria, deste modo como José, um justo varão, poderia ousar tocar em Maria, sabendo que ela é esposa de Deus?

Oremos ao Senhor Jesus, que clareie a mente de todos os cristãos para que a unidade possa reinar no Cristianismo, uma vez que em Deus não há sombra de variação, e se as verdades para os fiéis mudam é porque não são verdades...

Aqueles que acreditam na Sola Scriptura, princípio inventado por Martinho Lutero, terão que responder nada, pois nas Sagradas Escrituras não se menciona uma palavra acerca de um segundo casamento de Maria.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mãe de Deus (Theotokos)


Mas, quando se cumpriu o tempo estabelecido, Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei. (Gálatas IV,4)

Quando se reuniu em 431, na cidade de Éfeso, a Igreja procurou estabelecer de uma vez por todas como deveria ser encarada a reunião das naturezas humana e divina em Cristo.  Havia um embate entre Nestório, Patriarca de Constantinopla, e São Cirilo, Patriarca de Alexandria sobre esta questão.  O primeiro propunha a separação completa da natureza humana da divina, em Jesus habitaria duas pessoas, a divina e a humana,  consequentemente Maria seria a mãe da pessoa humana e não da, divina.  Mas, a realidade é que as duas naturezas estão reunidas na pessoa de Jesus, ou seja, na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que é Deus.
Nestório, em virtude de sua teologia, negava o título de Mãe de Deus a Maria, acreditando que ela seria tão somente a mãe de Cristo, do mesmo modo como algumas pessoas o fazem nos dias de hoje.
Neste trabalho tentarei mostrar a correção deste título do ponto de vista das Sagradas Escrituras, do ponto de vista histórico e do ponto de vista lógico.
É sempre bom lembrar, o título de Mãe de Deus é atribuído a Maria, como forma de intensificar nosso conhecimento de que Jesus é verdadeiramente Deus.

Maria, Mãe de Deus – uma questão de lógica

Vamos a um exemplo:

Lula é presidente do Brasil
Jesus é Deus
Dona Lindu é mãe de Lula
Maria é mãe de Jesus
Dona Lindu é mãe do presidente do Brasil
Maria é mãe de Deus

Pensando em termos lógicos, a única maneira de negar que Maria é mãe de Deus é encontrar algum erro ou incompletude nas premissas.
Por certo, Cristo herdou de Maria a carne “semelhante ao pecado” e não a sua divindade, que é eterna.  Sabendo disso, há alguns que alegam que isso faz de Maria, mãe do Jesus-homem e não do Jesus-Deus.  Contudo, esta distinção nos faz cair em dois possíveis erros: Jesus é meio homem, meio Deus, como se fosse um mito grego ou romano qualquer; a outra é não reconhecer que a pessoa humana é composta de alma e carne, a Dona Lindu, assim como Maria, deu a carne aos seus respectivos filhos, mas não deram a alma, que vem de Deus, todavia ninguém diria que Dona Lindu é somente mãe da carne de Lula, então porque dizemos que Maria somente é mãe da carne de Jesus.  Maria é mãe da pessoa de Jesus, assim como, Dona Lindu é mãe da pessoa do Lula e como pessoa, em Jesus estão reunidas as naturezas humana e a divina.
Assim, filosoficamente, não podemos negar que Maria é a Mãe de Deus.

Período Patrístico

Há quem alegue que o título de Mãe de Deus a Maria foi dado somente no Concílio de Éfeso, no ano de 431, contudo quem assim o faz nega a verdade histórica, vejamos.
Sob a vossa proteção procuramos refúgio, santa Mãe de Deus: não desprezeis as nossas súplicas, pois estamos sendo provados, mas livrai-nos de todo o perigo, ó Virgem gloriosa e bendita (Oração Egípcia, século II)
Alexandre de Alexandria (?,326), mais de cem anos antes do Concílio.
[Jesus] não teve apenas aparência, mas tinha carne de verdade recebida de Maria, mãe de Deus (Epístola a Alexandre de Constantinopla 12, grifo nosso)
Atanásio de Alexandria (295?,373) foi Patriarca de Alexandria e um defensor na fé trinitária, indispensável ao verdadeiro cristão, morreu 58 anos antes do Concílio.
A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de Cristo Salvador estas duas coisas: que Ele é Deus e nunca deixou de O ser, visto que é Palavra do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus. (Da Trindade, grifo nosso)
Houve muitos que já nasceram santos e livres do pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus. (Da Trindade, grifo nosso)

Ambrósio de Milão (340-397), bispo de Milão, um dos grandes doutores da Igreja e que também combateu vigorosamente o pensamento anti-trinitário.  Ambrósio está separado do Concílio de Éfeso em 34 anos.
Dissemos que José era um varão justo, dando-nos o evangelista a entender que ele não se atreveria a profanar o templo do Espírito Santo: o ventre do mistério, o corpo da Mãe de Deus. (Comentário sobre o Evangelho de Lucas)
Que há de mais excelente do que a Mãe de Deus? (De Virginibus 2,2,7, grifo nosso)

João Crisóstomo (349-407). Patriarca de Constantinopla, grande doutor da Igreja, morreu 24 anos antes do Concílio.
Ó Filho único e Verbo de Deus: sendo imortal, vos dignaste, pela nossa salvação, encarnar-vos da Santa Mãe de Deus e sempre virgem Maria[...]. (O Monoghenis, grifo nosso)

Para não enfadar o leitor paramos aqui, rogando para que estes tão singelos extratos tenham sido suficientes para que se tenha entendido que o título de Mãe de Deus é muito anterior ao Concílio de Éfeso.

Até o momento provamos, assim espero, que a lógica permite que chamemos Maria de Mãe de Deus e historicamente, bem antes do Concílio de Éfeso, este título já era dado a Maria.  Nos próximos itens iremos fornecer argumentos de que além da Sagrada Tradição, também as Sagradas Escrituras nos apontam para esta verdade. 
Que o Espírito Santo possa nos guiar!

Mãe do Senhor

Nos tempos de Jesus, assim como ainda é para os judeus, o nome de Deus era impronunciável, assim é que hoje não se sabe como o nome de IHWH era dito pelos judeus naquela época.  A versão grega Septuaginta da Bíblia substituiu o tetragrama IHWH, por SENHOR, Kyrios[1], em grego.  Assim, Maria é a mãe de Deus, pois Isabel cheia do Espírito Santo declara:
Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?(Lucas, I, 43).

Santa Isabel, cheia do Espírito Santo e exultando de alegria por estar na presença da mãe do Senhor, continua:
Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas! (Lucas I, 45)

Se analisarmos o texto do Magnificat não há dúvida de que estas santas mulheres fazem intercambio dos termos Senhor e Deus.  Portanto, quando Santa Isabel chama Maria de mãe do Senhor, ela a está chamando de mãe de Deus.

Anunciação

A seguir reproduzimos uma passagem marcante para todo o cristão, a Anunciação do Anjo a Maria:
Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. (Lucas I, 28-35)

Esta passagem é muito interessante em diversos aspectos para o estudo de qual o papel de Maria na obra da redenção, senão vejamos.
Alguns não acreditam no Dogma da Imaculada Conceição, pois acham que Maria foi liberta do pecado somente quando “o poder do altíssimo” a envolveu, mas reparem os leitores que o anjo chamou Maria de cheia de graça e falou que ela encontrou graça diante do Senhor antes do Fiat, portanto ela foi santificada em algum momento anterior ao seu “faça-se”...
Fica patente que o filho de Maria será rei, pois “reinará eternamente na casa de Jacó”, e como os reis da casa de Davi, Judá, tiveram a sua rainha-mãe, Jesus também deveria o ter, por isso a Igreja Católica afirma que Maria é rainha, da forma que este título é entendido nas Sagradas Escrituras, ou seja, que a rainha é submissa ao rei, mas que pode suplicar a Ele e interceder pelos seus súditos (cf. João II)
O anjo diz que Maria conceberá, ou seja, que ela terá parte ativa na concepção de Jesus, afirma ainda que o filho de Maria será “grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo” e que pela concepção miraculosa através do poder do Espírito Santo, o “ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus”.
Meus caros leitores, está claro que Jesus é em todo Filho de Deus, na sua natureza humana e na sua natureza divina, não havendo problemas em proclamar Maria como Mãe de Deus.

Epístola aos Gálatas

Lucas era discípulo de Paulo e seus escritos se alinham com o que foi proclamado pelo apóstolo.  A mesma ideia contida no Evangelho está nesta Epístola, vejamos.
A Epístola aos Gálatas é uma carta de São Paulo redigida entre 55-60 d.C., principalmente, para combater os chamados judaizantes, que ainda estavam presos ao passado, à velha aliança.  Fica tão premente este aspecto que Paulo inclusive combate o comportamento de São Pedro, líder da Igreja.
Para nosso estudo, em particular, interessa um versículo:
Mas, quando se cumpriu o tempo estabelecido, Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei. (Gálatas IV,4)

O centro de nossa argumentação está na frase nascido de uma mulher.  Ora, São Paulo afirma que o filho de Deus nasceu de uma mulher, ora esta mulher é Maria, logo Maria é mãe do filho de Deus.
Por isso está escrito no Credo Apostólico:
Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da Terra e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor.  Nasceu da Virgem Maria [...].
Assim, o filho único de Deus, o seu unigênito, ou seja, o Deus-Filho, que é nosso Senhor, nasceu da Virgem Maria.
Voltemos a São Paulo.  Ele é bem específico, o filho de Deus nasceu de uma mulher.  Quando dizemos que A nasceu de B, temos a obrigação de dizer que B é mãe de A. Como em um processo de substituição em uma equação, na argumentação acima vamos substituir A por Deus e B por Maria.  Então, quando dizemos que Deus nasceu de Maria, temos a obrigação de dizer que Maria é mãe de Deus.

Para não reconhecer a conclusão acima, é necessário que o leitor não creia que Jesus, mesmo sendo o filho único de Deus, não é Deus.  É necessário, para tal, não crer na Palavra de Deus, não crer na Santíssima Trindade.

Emanuel

Mateus, em seu Evangelho, cita Isaías VII, 14:
Eis que a Virgem conceberá e dará a luz a um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que significa: Deus está conosco. (Mateus I,23)
O arcanjo Gabriel diz que o nome do filho da Virgem será Emanuel.  Maria, então, é mãe de Emanuel.  O próprio evangelista traduz o termo Emanuel, cujo significado é Deus está conosco.  Logo Maria é mãe de “Deus está conosco”.

Conclusão

Como está escrito no Catecismo Católico temos que reconhecer que:

Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é ele mesmo Deus. (CIC, 509)

Todos os méritos de Maria são oriundos da graça particular dada por Deus a ela, em virtude de quem ela mereceu ser mãe, por isso Maria também foi salva por Jesus Cristo, mas de uma maneira mais sublime, desde o nascimento dela...
Encerramos este pequeno estudo com as palavras de São Cirilo de Alexandria:
Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus, realmente, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou?  Essa verdade foi-nos transmitida pelos discípulos do Senhor, embora não usassem esta expressão [...]. (Maria, Mãe de Deus)
Salve, ó Maria, Mãe de Deus, virgem e mãe, estrela e vaso de eleição! [...] Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lucas II,14). Salve, Maria, Mãe de Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve, Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz! Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador" (Tito II,1). Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, a Nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (João VIII,12). Deus te salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Isaías IX, 2), uma luz não outra senão Jesus Cristo, Nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (João I,9). Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mateus XXI,9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel! Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembleia de entusiásticos defensores de tua honra! (Discurso no Concílio de Éfeso)


[1] Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/2042. Acessado em 9 de fevereiro de 2010.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Rainha

INSTITUIÇÃO DA REALEZA



Comecemos este estudo com a instituição da realeza em Israel.

Lemos no Pentateuco que Moisés conduzia o povo através do deserto, ouvindo a voz de Deus e transmitindo Seus ensinamentos. Quis Deus, também criar o ofício do sumo sacerdote, que seria o guia espiritual do povo, esta missão foi confiada a Aarão, irmão de Moisés.

Com o passar do tempo e a constante consolidação de Israel como nação, o povo teve necessidade de criar instituições civis, independentes da religião, assim os juízes passaram a liderar o povo através de guerra e combates heroicos, mas estes juízes eram sempre ungidos por Javé.

Entretanto, influenciados pelos sistemas políticos que cercavam o território judeu, o povo clamou a Deus que pudessem ter um rei, foi assim que Samuel, por ordem de Deus, ungiu o primeiro rei, Saul da tribo de Benjamin.

Saul, contudo, não fez o que era agradável a Deus e por isso perdeu esta dignidade, tendo sido passada a Davi, da tribo de Judá.

Diferentemente de Saul, Davi foi um homem “segundo o coração de Deus” e não se rendeu ao caráter idolátrico das nações vizinhas e mesmo tendo cometido vários pecados, foi confiado à descendência de Davi, um reino que nunca teria fim.

Conforme, vemos no Novo Testamento, esta promessa de Deus se cumpre no Senhor Jesus.


RAINHA MÃE


Ao lermos os escritos da Velha Economia, constatamos que o título de rainha mãe concedia uma dignidade ímpar para a mãe do rei, contudo não lhe concedia autoridade sob o rei. Mas, os súditos acreditavam que a rainha-mãe tinha ascendência suplicante em relação ao filho.

Ora, por este motivo, sabendo que Salomão tinha muito estima por sua mãe, Betsabeia, Adonias, o seu irmão mais velho e que pensava ter direito ao trono, solicitou a ela que intercedesse junto a Salomão, para que pudesse tomar por esposa uma das concubinas de Davi (I Reis, 2:12-18), uma vez que Adonias achava que uma súplica da rainha-mãe não seria negada (I Reis, 2: 17/20). Entretanto, a Sagrada Escritura demonstra cabalmente que a decisão cabia única e exclusivamente ao rei e o pedido foi negado, pois o irmão queria roubar o trono que Deus entregara a Salomão (I Reis, 2:22). Este fato é uma das prefigurações do grande momento das Bodas de Caná, em que o povo suplica a Maria, entendida como rainha-mãe, que interceda junto a Jesus, o rei, para que Ele conceda mais vinho. Novamente, a concessão fica por conta do rei, mas desta feita atende ao pedido de sua mãe e fornece mais vinho, ainda melhor que o primeiro.

Em especial, o título de rainha-mãe era muito apreciado em Judá, assim que vemos nos textos de I Reis, quando está se descrevendo os reis e os reinados, em quase todos os casos menciona-se o nome da mãe do rei (I Reis 15:2, 15:10, 22:42, II Reis 8:26, 12:2, 15:2, 15:33, 18:2, 21:1, 21:19, 22:1, 23:36, 24:18), mostrando como esta figura era importante.

Especificamente, em I Reis 15:13 Asa, que era rei de Judá, destituiu sua mãe da “dignidade de rainha”, (o leitor pode conferir esta tradução nas versões protestantes Almeida Revista e Atualizada, Almeida Revista e Corrigida e na Nova Tradução para a Linguagem de Hoje), ou seja, corrobora com o pensamento de que a mãe do rei, era também rainha. O leitor pode conferir este mesmo título, em 2 Reis 10,13 e Jeremias 13,18.

É indiscutível que em conjunto com o título de rei, também foi instituído o de rainha-mãe em Israel, ora vemos também que este título em nada diminuía o caráter decisório do rei, pelo contrário é um título muito apreciado pela piedade popular. Podemos tomar o exemplo do reino unido que também tinha uma rainha-mãe, a rainha Elizabeth, e que seu falecimento causou muita comoção na Inglaterra e no mundo como um todo.

Sabemos que em Jesus se cumpre a promessa de um rei que governará Israel para todo o sempre, com isso os evangelistas, através de seus escritos, mostram aos leitores, principalmente, os judeus que Jesus é este rei.

Os Evangelhos Sinópticos (São Mateus, São Marcos e São Lucas) mencionam muitas vezes Jesus e em seguida O relatam como o filho de Maria, assim como lemos no texto do Livro dos Reis. Como Jesus é nosso rei, Maria tem de ser a rainha-mãe. Podemos ver este paralelo já na genealogia, nos fornecida por Mateus, de Jesus Cristo, Nosso Senhor:

Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus irmãos. Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron gerou Arão. Arão gerou Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou Salmon. Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi. O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de Urias. Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa. Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias. Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias. Ezequias gerou Manassés. Manassés gerou Amon. Amon gerou Josias. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro de Babilônia. E, depois do cativeiro de Babilônia, Jeconias gerou Salatiel. Salatiel gerou Zorobabel. Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliacim. Eliacim gerou Azor. Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud. Eliud gerou Eleazar. Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó. Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo. (Mateus 1,1-16, grifo meu)


Mateus, conforme podemos inferir das Sagradas Escrituras, escrevia para um público essencialmente judeu. Por isso, a genealogia se estende até a Abraão que foi o detentor das primeiras promessas e passa por Davi a quem Deus prometeu entregar o reino de Israel, desta forma Mateus se preocupa com a linhagem real de Jesus. Além disso, a cultura judaica sabia que os reis tiveram suas respectivas rainhas-mães, por isso era necessário ligar Maria a tal título, para que os judeus se convencessem de que Jesus é realmente o Messias. Muitos escritos do período Patrístico, e alguns textos judaicos, remontam à Maria a descendência real, uma vez que Jesus é da descendência de Davi, segundo a carne e que José não teve participação na concepção de Jesus.

Desta forma, o título de rainha-mãe dado a Maria era mais uma das provas de que Jesus é o verdadeiro rei, o Cristo, ou seja, o ungido de Deus para governar sobre toda a criação. Deste modo, o título de Rainha dado a Maria é totalmente cristocêntrico e foi visto como necessário para os evangelistas que queriam provar que Jesus era o rei prometido aos judeus.



A arca da aliança


A Arca da Aliança foi um verdadeiro ícone do Sagrado, do Divino. E apesar de as Igrejas Cristãs Protestantes proibirem o uso de imagens, se utilizam, como meio catequético, de réplicas da Arca conforme foi descrita a Moisés.

A Arca continha três tipos de Jesus dentro: o maná - Jesus é o “verdadeiro ‘maná’ do céu” (João 6,32); a vara de Araão – Jesus é o “Sumo Sacerdote” (Hebreus 3,1) e; os Dez Mandamentos – Jesus é o “Verbo (Palavra) que se fez carne” (João 1,14).

Assim, Maria em seu ventre carregou Jesus, tornando-se a Arca da Aliança dos cristãos. Há paralelismo entre o Velho e o Novo Testamento que confirmam Maria como a Arca da Nova Aliança, vejamos:



Antigo Testamento: quando a Arca da Aliança foi trazida perante o rei Davi - "Temeu Davi ao Senhor naquele dia e disse: 'Como virá a mim a Arca do Senhor?'" (2 Samuel 6,9).



Novo Testamento: quando Maria foi visitar sua parenta Isabel, que estava grávida de João Batista - "De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?" (Lucas 1,43).



Antigo Testamento: quando o rei Davi dançou de júbilo porque ele estava na presença da Arca.


Quando a Arca do Senhor entrava na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela. E vendo ao rei Davi, que ia saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração (2 Samuel 6,16).


Novo Testamento: quando o profeta João Batista saltou de júbilo no ventre de sua mãe, Isabel. Ele fez isto quando ouviu a voz de Maria.

Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo (Lucas 1,41).


Antigo Testamento: A nuvem de glória (hebraico, Anan) foi representativa do Espírito Santo e “ensombrou” a Arca quando Moisés a consagrou em Êxodo 40,35. A palavra grega para “ensombrar” encontrada na Septuaginta é episkiasen.


Novo Testamento: “O Espírito Santo virá sobre Ti e o poder do Altíssimo Te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de Ti será chamado Filho de Deus” (Lucas 1,35). A palavra grega utilizada por São Lucas para “cobrirá com a sua sombrar” é episkiasei.


Antigo Testamento: “Ficou a arca do Senhor três meses na casa de Obed-Edom de Get, e o Senhor abençoou-o com toda a sua família.” (2 Samuel 6,11).


Novo Testamento: “Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.” (Lucas 1,56)


Antigo Testamento: Podemos inferir do primeiro livro das Crônicas (I Crônicas 28) que Davi dá por consumado seu reinado, quando fornece instruções específicas ao seu filho Salomão para a construção do Templo, que seria a casa da Arca da Aliança, ou seja, quando Davi vela pelo destino da Arca.


Novo Testamento: Jesus dá por consumado seu ministério terreno, no momento em que vela pelo destino da Nova Arca, Maria, ao dá-la como mãe do discípulo amado.

Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura, disse: Tenho sede. (João 19, 26-28)


Deste modo Maria não deixa de ser a Arca da Aliança após o nascimento de Jesus Cristo. Podemos ver pelo Salmo 131 que a missão terrena de Davi era fornecer uma morada a Deus e a sua arca e que não descansaria, ou seja, não daria por consumada a sua jornada enquanto não consagrasse uma casa para a Arca da Aliança. Assim, como Jesus deu por consumado sua paixão no ponto em que estabelece uma casa para a nova Arca da Aliança.

Mas Jesus não deu esta missão somente a João, que nem mesmo é nomeado nesta passagem, Ele nos faz saber que todos aqueles que quiserem ser discípulos amados devem tomar Maria por mãe e levarem-na para a casa.

É na crença de Maria como a Arca da Nova Aliança, que se afia a Igreja Católica em declarar e suplicar para que Maria passe na frente das lutas, uma vez que depois dela necessariamente vem o rei, o general, o nosso advogado, o nosso Salvador e Senhor, Jesus Cristo, bendito para todo o sempre!

3[...] Na realidade, se não é possível estabelecer um momento cronológico preciso para aí fixar o nascimento de Maria, tem sido constante da parte da Igreja a consciência de que Maria apareceu antes de Cristo no horizonte da história da salvação. É um fato que, ao aproximar-se definitivamente a "plenitude dos tempos", isto é, o advento salvífico do Emanuel, Aquela que desde a eternidade estava destinada a ser sua Mãe já existia sobre a terra. (Redemptoris Mater, SS. João Paulo II)

Sendo Maria, a Arca da Aliança, podemos entender que se aplicam a Jesus e a ela as palavras do Salmo 131,8, conforme nos conta São Tomás de Aquino:

Levanta-te, Senhor, entra no teu repouso; tu e a arca da tua santificação.

Esta aplicação, que em nada diminui a glória de Jesus Cristo, parece apontar para uma verdade que está enraizada na liturgia católica desde os primeiros séculos, que mostra que Maria, somente pelos superabundantes méritos de Jesus Cristo, foi assunta ao céu e encontra-se no repouso de Deus. Entretanto, a Assunção de Maria é assunto para outros estudos...



Apocalipse 12


Desde os primórdios do cristianismo, Deus instituiu sua esposa como depositária dos tesouros do céu, assim somente esta esposa, a Igreja, tem o direito e o dever de interpretar a Palavra de Deus. Contudo, como não há um posicionamento oficial da Igreja com relação à interpretação deste capítulo do livro do Apocalipse de São Jõao, então eu vou propor uma.

Primeiramente, o leitor pode estar se perguntando, o que o fato de Maria ser a Arca da Aliança, no Novo Testamento, tem a ver com nossos argumentos de que ela é também rainha.

Primeiro, acredito que já ficou provado que Maria é sim a rainha, entendido este título por mim como uma extensão, tão somente, do caráter real de Jesus Cristo, contudo ainda resta uma questão que atormenta muitos cristãos e dificulta o diálogo realmente ecumênico, quem é a mulher, a rainha, que se nos apresenta no capítulo 12 do livro do Apocalipse.

No final do capítulo 11, do livro do Apocalipse, São João fala da Arca da Aliança:

Abriu-se o templo de Deus no céu e apareceu, no seu templo, a arca do seu testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva. (Apocalipse, 11:19)


Este trecho do capítulo 11 e o todo o capítulo 12, em minha opinião, poderiam estar juntos, pois relatam o mesmo acontecimento, uma vez que o início do capítulo 12 está escrito:

Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. (Apocalipse, 12:1)

Deste modo podemos concluir que a mulher revestida de sol é a Arca da Aliança, ou que a Arca da Aliança do Antigo Testamento prefigurava esta mulher.

Além disso, o Evangelho de São Lucas, já disponível na época da escrita do Apocalipse, fala que o poder do Altíssimo cobrirá Maria, deste modo podemos traçar um paralelo com a mulher do Apocalipse que está vestida de Sol. Sabendo que “coberta” e “vestida” são sinônimos.

No versículo abaixo, ao final do capítulo 12, é interessante notar que São João relata que aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” formam a descendência da mulher.

Este [o dragão], então, se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus. (Apocalipse, 12:17)


Sabemos que aqueles que têm o testemunho de Jesus formam a Igreja, ou seja, a mulher revestida de Sol não pode ser esta Igreja, ao contrário esta mulher é como Eva, gerando as novas criaturas que formam a Igreja, a esposa de Cristo.

Ora, já vimos que Maria é a mãe da Igreja e mãe dos viventes em Cristo Jesus, logo nós somos a sua descendência, não por que a amamos e muito menos por que a adoramos e sim por que estamos em união com seu filho, que é o Senhor da Glória, instituído Rei pelo Deus Todo-Poderoso, mais uma pista para que entendamos esta mulher como sendo Maria.

Além do mais alguns argumentam que se São João estivesse se referindo a Santa Maria, ele a teria nomeado, contudo temos de analisar o estilo apocalíptico que se expressa neste livro. Neste gênero, os personagens não são nomeados. No capítulo 12, somente o Cordeiro tem um nome próprio. Este recurso era empregado para dar alcance maior ao escrito, se São João tivesse nomeado alguns personagens deste livro, o alcance seria imediato.

Outro argumento muito utilizado e que vem sendo propalado em meio cristão é que São João estaria se referindo a Israel, uma vez que alguns versículos deste capítulo nos remetem a características da nação de Israel. Este argumento é plausível, contudo devemos nos lembrar das palavras empregadas por São Lucas para descrever a saudação do anjo a Maria:

Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. (São Lucas 1,28)


A palavra grega que São Lucas emprega é caire, que São Jerônimo traduziu por Ave, mas que foi empregada no sentido de Alegra-te. Este trecho do Evangelho cita a passagem de Sofonias:

Solta gritos de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, ó Israel! Alegra-te e rejubila-te de todo o teu coração, filha de Jerusalém! O Senhor revogou a sentença pronunciada contra ti, e afastou o teu inimigo. O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti; não conhecerás mais a desgraça. (Sofonias 3,14-15)

A Tradição Apostólica confirma esta interpretação de que Maria é a Jerusalém terrestre, a Cidade Viva de Deus:

Quem ama alguma coisa costuma trazer seu nome nos lábios e nela pensar noite e dia. Não me censure, pois, se pronuncio este terceiro panegírico da Mãe de meu Deus, como oferenda em honra de sua partida [...] Hoje, da Jerusalém Terrestre, a Cidade Viva de Deus (Maria) foi conduzida à Jerusalém do alto. [...] (Homilia sobre a Dormição de Nossa Senhora, São João Damasceno)

Deste modo, São Lucas empregou o termo que antes designava a nação de Israel, podemos entender que a Jerusalém, a filha de Sião da Velha Economia, culmina na Santa Virgem Maria, logo aquelas características que eram empregadas a Israel podem ser aplicadas a Maria. O que é mais um argumento para considerarmos Maria como a mulher do Gênesis (Nova Eva) ao Apocalipse.

Eu penso em uma analogia entre a Israel da Velha Economia, Maria e a Nova Jerusalém.

A Israel antiga é como a luz branca que ao passar pelo prisma que é Maria se divide nas diversas cores, que representam as diversas nações que vem para adorar a Jesus Cristo.





Não há porque não acharmos que João estava se referindo a Maria, quando tratou da mulher revestida de Sol e que tinha na cabeça uma coroa com 12 pontas, que representam as doze tribos de Israel ou os doze apóstolos, ou ambos.



A Reforma Protestante



Hoje em dia se vê um embate entre os cristãos católicos e os protestantes, principalmente os de pensamento neopentecostal em se tratando de Maria, contudo Martinho Lutero, considerado o mais proeminente dos protestantes, não tinha esta aversão a Maria, pois cumpria a ordem dada pelas Sagradas Escrituras para proclamarmos Maria como bem-aventurada:

“Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade.”(Martinho Lutero, “Comentário do Magnificat”, cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista “Jesus vive e é o Senhor”, grifo nosso).

“Por justiça teria sido necessário encomendar-lhe [para Maria] um carro de ouro e conduzi-la com quatro mil cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem, anunciando: ‘Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de todo o gênero humano‘. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a pé, por um caminho tão longo e, apesar disso, é de fato a Mãe de Deus. Por isso não nos deveríamos admirar, se todos os montes tivessem pulado e dançado de alegria.”(idem, cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista “Pergunte e Responderemos” nº 429, grifo nosso).

É interessante notar que além de considerar Maria como rainha, Martinho Lutero a confessava como a verdadeira Mãe de Deus, mas isto fica para um próximo estudo.

Os novos protestantes se arvorando de zelo pela Palavra de Deus tentam dizer que acham que a única dignidade de Maria foi ter sido mãe de Jesus, o que contraria os Escritos Sagrados que dizem que mais feliz é aquele que crer. Além disso, muitos pastores e pregadores têm medo de falar sobre Maria, com medo de que os fiéis caiam em idolatria, contudo Hebreus explicitamente nos manda que lembremos dos exemplos que nos precederam, que nós os honremos, não com a honra somente devida a Deus, mas com a honra que nós devemos aos nossos pais, pois Maria é nossa mãe na fé, e devemos honrá-la como nossa mãe e rainha, sabendo que tudo provém dos méritos de Jesus Cristo.